SEMINÁRIO DE
PRÁTICAS COMUNITÁRIAS
E HISTÓRIA PÚBLICA
19 E 20 DE JANEIRO 2023
FORMATO HÍBRIDO
SALA DE ATOS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS -CAMPUS DE GUALTAR- BRAGA
PARTICIPAÇÃO LIVRE
ACESSO ZOOM:
https://videoconf-colibri.zoom.us/j/99391547580?pwd=NzZZUEV4cVhOcUtUN2dJNlVncFN4dz09
SEMINÁRIO DE PRÁTICAS COMUNITÁRIAS E HISTÓRIA PÚBLICA
Promovido pelo LAB2PT e dirigido a estudantes de graduação e de pós-graduação, o seminário parte de três interrogações centrais: Quais os limites do trabalho interdisciplinar nas ciências sociais? Que desafios e que potencialidades existem nas práticas pluridisciplinares? Que caminhos e que potencialidades se oferecem às práticas comunitárias e à história pública?
Este seminário pretende ser um espaço de problematização e de experimentação a partir de itinerários de investigação filiados nas Humanidades, Artes e Ciências Sociais. Independentemente da temática ou do objeto de estudo particulares, estes apresentam um denominador comum: uma aposta nas comunidades delineada segundo modalidades e contornos diversos – desde o envolvimento e implicação em experiências de investigação-ação até à criação de espaços de experiência e de sentido. Correntemente, esta aposta desagua em territórios fluídos polarizados em torno da palavra cultura e suas derivações.
É justamente aqui que reside o eixo estruturador do seminário que se plasma numa interrogação: é possível ultrapassar as barreiras entre categorias balizadas por conceitos como conhecimento, ciência, experiência, sentido (sensorial, corporal, estética)? Como trabalhar identidades, memórias e passados ora dialogantes ora conflituantes no contexto das guerras culturais que marcam o tempo presente e atravessam o espaço mediático e científico?
O seminário articula-se em três dimensões transversais: reflexões teórico-metodológicas sobre a transdisciplinaridade e os horizontes colaborativos da história pública, apresentação de projetos de história pública e de práticas comunitárias já concluídos e discussão sobre percursos de investigação ainda em curso ou em fase exploratória.
Assim, este seminário consiste numa interpelação aos diferentes domínios do conhecimento, da ciência e da cultura no sentido de se articularem e produzirem novos objetos de estudos, ângulos de análise e abordagens teóricas, conceptuais e metodológicas à realidade social.
PROGRAMA
19 jan 2023
9.15 Abertura
Lab2PT I Departamento de História I ICS
9.30 – 11.00
Moderadora: Alexandra Esteves I Lab2PT-ICS UMinho
Joana Dias Pereira (IHC-FCSH) I A longa história do associativismo livre: um projeto de investigação colaborativa
Isabel Macedo (CECS-ICS UMinho) I MIGRA MEDIA ACTS: diálogos interdisciplinares num projeto de investigação-ação
Rita Leite (CEHR-UCP) I Cinquenta anos do 25 de abril: uma história de permanências, ruturas e recomposições
Pausa
11.30 – 13.00
Moderadora: Fátima Moura Ferreira | Lab2PT-ICS UMinho
Álvaro Domingues (CEAU-FAUP) & Duarte Belo I Todo o mundo é composto de mudança
Cidália Silva (Lab2PT-EAAD UMinho) | Palácio da Imaginação: Uma experiência de co-criação coletiva no Bairro da Emboladoura, Guimarães
Bruno Madeira (CITCEM|ICS UMinho) I Pós-fascismo e esfera pública: a função social da história no ruído dos seus usos políticos
14.30 – 16.00
Moderador: Fernando Bessa | CICS.NOVA-ICS UMinho
Nuno Domingos (ICS-UL) | Desporto e narrativa nacional
Virgílio Borges Pereira (IS-UP) I Objectivar o trabalho e a reprodução social na indústria da construção: uma perspectiva reflexiva sobre um percurso de pesquisa
Luís Trindade (CEI-UC) I Canções para a História. A música popular como arquivo do século XX
Pausa
16.30 – 18.00
Moderador: Bruno Madeira | CITCEM|ICS UMinho
Fernando Bessa (CICS.NOVA-ICS UMinho) I O “caminho do Oriente” e a catástrofe como possibilidade
Luís Velasco-Martinez (UVigo) I Patrimonio histórico y memoria de la dictadura en la España actual
Andreia Nunes (ICS UMinho) I Estudos de género nas Forças Armadas Portuguesas (1990-2020): Potencialidades e desafios de um exercício voltado para o uso público da História
20 jan 2023
9.30 – 11.00
Moderadora: Rita Oliveira | Lab2PT-ICS UMinho
Alberto Berzosa Camacho (CCHS-CSIC) I Archivos y memoria ecológica. La Península Ibérica y su entorno
Filipa Santos (ICS UMinho) I Entre a Terra e o Mar: uma etnografia visual da cultura do sargaço na comunidade piscatória de Angeiras, Matosinhos
Glória Solé (CIED-UMinho) I Ensino de história a jovens refugiados: um estudo comparativo entre Grécia e Portugal
Pausa
11.30 – 13.00
Moderadora: Paula Grenha | ICS UMinho
José Pedro Monteiro (CECS- ICS UMinho)| O mundo está louco e nós é que sofremos as consequências”: os desafios de escrever uma história internacional do colonialismo português
Marília Gago (CITCEM | IE UMinho)I Ser ou não ser: (Des)colonização e identidade(s) Portuguesa(s)
Natacha Antão Moutinho (Lab2PT-EAAD UMinho) | Walk | Caminhar como prática artística
Teresa Mora (CICS.NOVA-ICS UMinho) I Práticas artísticas e (est)ética do reconhecimento
14.30 – 16.30
Moderadora: Teresa Mora | CICS.NOVA-ICS UMinho
Maria Manuel Oliveira (Lab2PT-EAAD UMinho) I As pessoas somos nós
Irene Pimentel (IHC-FCSH) | Compreender que não nascemos hoje através da História
Fátima Moura Ferreira (Lab2PT-ICS UMinho) I Intersecções, desvios e bloqueios: a interdisciplinaridade vista a partir da História
COMUNICANTES
Alberto Berzosa Camacho (CCHS-CSIC)
Archivos y memoria ecológica. La Península Ibérica y su entorno
Durante anos tem vindo a explorar um caminho de investigação que o leva a trabalhar em arquivos ligados a movimentos sociais, a sindicatos, a colecções privadas de ativistas e a artistas com um papel militante, com um duplo objectivo: conhecer as histórias dos movimentos sociais a partir das suas fontes primárias e, em particular, estudar os materiais interessantes do ponto de vista da cultura visual (fotografias, filmes, ilustrações, cartazes, propaganda política, etc.); por outro lado, pensar em formas de ativar, divulgar e pensar, em conjunto, estes materiais, através de propostas de curadoria de exposições. Está atualmente a desenvolver esta tarefa em relação aos movimentos ambientais na Península Ibérica no âmbito do projeto Estética Fósil (CSIC, Madrid), no qual se concentra no estudo dos arquivos ambientais espanhóis, e como membro da Cost Action “Trace as a research agenda for climate change, technology studies, and social justice” (TRACTS), de onde procura expandir o estudo, em primeiro lugar, para o caso particular de Portugal e, em segundo lugar, para o espaço geopolítico do Sul da Europa. Nesta apresentação, partilhará algumas chaves para a evolução da investigação, as metodologias de trabalho desenvolvidas, os objetivos alcançados e os desafios a curto e médio prazo.
Nota Biográfica
Alberto Berzosa Camacho tem um doutoramento europeu em História e Teoria da Arte. Autor de livros como Cine y sexopolítica (2020) e Cámara en mano contra el franquismo (2009). Fez curadorias em museus e centros de arte como La Casa Encendida, MACBA e IVAM. A sua investigação explora o espaço onde a arte contemporânea, os estudos cinematográficos, os arquivos políticos e a curadoria se cruzam. Sediado em Madrid, trabalha como membro do projecto de investigação Estética Fóssil, do Conselho Nacional de Investigação Científica (CSIC), fazendo ainda parte do Comité de Gestão da Acção de Cost Action TRACTS.
Andreia Nunes (ICS UMinho)
Estudos de género nas Forças Armadas Portuguesas (1990-2020): Potencialidades e desafios de um exercício voltado para o uso público da História
Esta comunicação apresenta uma reflexão acerca da integração da mulher nas Forças Armadas Portuguesas, procurando aferir o impacto da cultura no processo de construção social do género e a sua influência na carreira militar feminina. Assim, nesta intervenção procuramos realizar uma contextualização histórica da participação militar feminina em Portugal, uma discussão em torno do impacto dos estereótipos de género na carreira militar da mulher e uma análise estatística e quantitativa da evolução dos efetivos militares femininos no universo militar português. Pretendemos averiguar se os traços físicos e psicológicos da mulher, correspondentes ao modelo tradicional de feminilidade, correspondem ao ideal castrense em que assenta a instituição militar. Almejamos também identificar a possível existência de discrepâncias nas estruturas de poder, nas cadeias de comando e na representação numérica dos contingentes femininos. Por fim, propomo-nos averiguar se a posição das mulheres militares tende a reproduzir as hierarquias sexuais e de género existentes na sociedade civil. Esta pesquisa insere-se num projeto em curso no âmbito de uma dissertação de mestrado acerca da participação militar das mulheres nas Forças Armadas Portuguesas com o título: Debates e representações da mulher nas Forças Armadas Portuguesas: da abertura à criação do Plano Setorial da Defesa Nacional para a Igualdade (1990-2020). Por último, pretendemos produzir uma reflexão sobre o uso público da história no que concerne ao nosso projeto de investigação. Diante deste quadro, importa, num primeiro momento, abordar os desafios e as potencialidades da abordagem metodológica ao objeto de estudo; num segundo momento, pretendemos refletir sobre a experiência de contacto com as Forças Armadas Portuguesas; e, posteriormente, analisar a importância que este estudo pode representar para a compreensão das questões de género no seio das Forças Armadas e que eventuais consequências pode suscitar na forma como a comunidade científica, a instituição militar portuguesa e a população encaram essas questões.
Notas Biográficas
Andreia Nunes é licenciada em História pela Universidade do Minho (2021) e é estudante do Mestrado em História do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho
Álvaro Domingues (CEAU-FAUP)
Duarte Belo
Todo o mundo é composto de mudança
Todo o mundo é composto de mudança. Assim escreveu Luís Vaz de Camões, que a este propósito podia até estar a referir-se às paisagens do seu tempo. Apesar das imagens que teimam em persistir, a paisagem é em grande parte produto das mudanças sociais e dos modos de olhar para essa mudança.
No prefácio do livro Paisagens Portuguesas, diz-se:
"Vivemos tempos de identidades múltiplas, circulação rápida de referentes globais, pluralismo, metamorfoses tecnológicas e rupturas velozes e drásticas, dissipações e simultaneidades de contrários. Essa dissemelhança do mundo, paradoxalmente aliada de tudo o que é banalizado e padronizado (e é tanto), provoca um efeito dissolvente de quase tudo aquilo que antes era considerado sólido e permanente. Ao mesmo tempo, o temor criado por essa grande dissolução desperta a necessidade de um reconhecimento próprio e de um reconhecimento dos outros, diferentes ou mesmo inimigos. O sulco da identidade está sempre disponível para ser preenchido por novos materiais, sobretudo por materiais compósitos e mutantes, cuja variedade e plasticidade se adapta melhor à grande agitação dos tempos.
Assim também as paisagens — de registo codificado e revelador de marcas perenes, tempos lentos e traços das origens, transformam-se, como diria Pedro Almodóvar, num verdadeiro ataque de nervos. São virtualmente ilimitadas as possibilidades de representação da paisagem pela fotografia; são ilimitadas as paisagens do mosaico diverso e contrastado de Portugal; e são ilimitados os processos de transformação e as marcas que vão deixando e que acrescentam, combinam, transformam ou obliteram o que antes estava e era. Visto desta agitação, o passado foi ficando cada vez mais problemático no seu poder de resposta para aquilo que o impulso identitário demanda, o presente move-se demasiado rápido e só produz instantâneos e o futuro está quase opaco."
Notas Biográficas
Álvaro Domingues é geógrafo, doutorado em Geografia Humana, docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) e investigador do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. Entre outras obras, é autor de Paisagem Portuguesa (com Duarte Belo, Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2022), Portugal Possível (com Duarte Belo e Rui Lage, Lisboa: Museu da Paisagem, 2022), Paisagens Transgénicas (Museu da Paisagem 2021), Volta a Portugal (Contraponto, Lisboa, 2017), A Rua da Estrada (Dafne, Porto, 2010), Vida no Campo (Dafne, Porto, 2012) e Políticas Urbanas I e II (com N. Portas e J. Cabral, F.C. Gulbenkian, Lisboa, 2003 e 2011).
Duarte Belo é licenciado em Arquitetura. O trabalho de mapeamento fotográfico do espaço português deu origem a um arquivo fotográfico de mais de 1 970 000 imagens. Da obra publicada destacam-se: Portugal — O Sabor da Terra (1997-1998), Portugal Património (2007-2008), Portugal Luz e Sombra (2012), a trilogia composta por Caminhar Oblíquo, Depois da Estrada e Viagem Maior (2020) e Paisagem Portuguesa e Portugal Possível (2022). Tem trabalhado sobre nomes relevantes da cultura portuguesa, como Mário de Cesariny, Ruy Belo, Maria Gabriela Llansol ou Miguel Torga. É editor do blog Cidade Infinita. Expõe desde 1987 e participa regularmente em conferências.
Bruno Madeira (CITCEM|ICS UMinho)
Pós-fascismo e esfera pública: a função social da história nos ruídos dos seus usos políticos
Para o cientista social, o acto de interpretar, caracterizar e nomear um fenómeno político, cultural, social e económico é simultaneamente um instrumento de (des)construção do conhecimento científico e de intervenção na esfera pública. Esta, enquanto espaço privilegiado da formação de mundividências, interpela directamente a função social da história e dela exige um discurso que transcenda os exíguos limites dos auditórios académicos. À premência da sua função social, o historiador deve ainda ter a aguda consciência de que o seu trabalho é sempre marcado pela categoria, pelo contexto e pelos dilemas do presente. A escrita e a reescrita da história devem, portanto, ser particularmente atentas aos seus usos políticos. A história e a memória reemergem permanentemente no presente e, no contexto político-ideológico do século XXI, são centrais nas guerras culturais que se travam na universidade, na esfera mediática e nas redes sociais. Nesta comunicação propõe-se uma reflexão sobre as categorias taxonómicas mobilizadas para a interpretação e a caracterização do crescimento, recrudescimento e conquista do poder por parte de partidos e movimentos de extrema-direita no século XXI. Mais do que uma querela nominalista, problematizar a mobilização de conceitos como os de populismo, nacional-populismo, ultradireita, direita radical, alt-right, direita conservadora, neofascismo ou pós-fascismo traduz, além da preocupação com as ideias e as formas de organização político-ideológicas, formas diferentes de equacionar a função social da história e do cientista social. É sobre esta multiplicidade de opções téorico-metodológicas e as suas consequências na esfera pública e nos usos públicos e políticos da história que procuraremos reflectir.
Nota Biográfica
Bruno Madeira é professor auxiliar convidado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e investigador integrado no Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória».
Cidália Silva (Lab2PT-EAAD UMinho)
Palácio da Imaginação: Uma experiência de co-criação coletiva no Bairro da Emboladoura, Guimarães
Esta comunicação apresenta o processo de concretização do Palácio da Imaginação. Este é um projeto transdisciplinar de co-criação coletiva com os moradores do Bairro da Emboladoura, em especial com as crianças. Financiado pelo programa governamental Bairros Saudáveis, o projeto pretende responder às necessidades identificadas pelos moradores e instituições no bairro, colmatando a ausência de espaços públicos coletivos, nomeadamente cobertos que possam albergar atividades diversas. Ao questionar o que é um Palácio, não como Objeto, mas como Processo infinito, mantendo o seu caráter extraordinário, pretende-se tornar a vulnerabilidade socio-espacial, no seu movimento transformador: para que cada “ser” e “todos” possam ampliar o imaginário, e assim transpor as opressões externas e auto-impostas. A metodologia aplica 4 verbos-ações que concretizam os objetivos do PI: interdialogar (o espaço entre o “eu" e o “outro”); habitar (o meu bairro, o brincar, o estudo, a comida, a saúde, o tecido); recriar (o estudo, a parede, o chão, o teto, o diálogo), ativar (a prevenção universal, o bem-estar, a troca, o ambiente, o céu), concretizados na inter-ação do “sou” no “nós”.
Nota Biográfica
Cidállia F. Silva é arquiteta, Professora Auxiliar de Arquitetura e Urbanismo na Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho e Membro de Investigação Integrada do Laboratório de Paisagem, Património e Território, Lab2PT, Grupo LandS. Como Diretora do Doutoramento em Arquitetura (2018-2021), criou e materializou um programa centrado nos desafios contemporâneos, questionando e reconsiderando os limites da arquitetura. É coordenadora do projeto "Extraordinário do Ordinário" integrado no ProChild CoLab, que visa desenvolver uma estratégia nacional contra a pobreza infantil e a exclusão social através de uma abordagem científica transdisciplinar.
Fátima Moura Ferreira (Lab2PT-ICS UMinho)
Intersecções, desvios e bloqueios: a interdisciplinaridade vista a partir da História
Disponível em breve.
Nota Biográfica
Disponível em breve.
Fernando Bessa (CICS.NOVA-ICS UMinho)
O “caminho do Oriente” e a catástrofe como possibilidade: Contributos da história e da sociologia para o debate público sobre a recomposição do mundo
Quase vinte anos depois da utilização da arma atómica, Stanley Kubrick produziu um filme, genial e inquietante, sobre o poder do átomo. Inaugurando a possibilidade do aniquilamento geral súbito da humanidade, a bomba sobre Hiroshima colocou-nos doravante diante de um futuro comum trágico. Se ao longo da Guerra Fria vivemos momentos de risco máximo, como foi o da crise dos mísseis em Cuba (1962), hoje a guerra na Ucrânia confronta-nos novamente com a ameaça iminente da catástrofe atómica. Não tendo a história começado em 24 de fevereiro de 2022, nem em 2014, nem até em 1989, a comunicação discutirá a transição de hegemonia no contexto da recomposição do sistema mundial capitalista, isto é, a transição de poder, conhecimento e recursos para o Oriente, depois de seis séculos de domínio ocidental. Se todas as transições de hegemonia foram marcadas pela guerra, a que se desenrola diante dos nossos olhos assume uma tonalidade atemorizadora, pois o arsenal atómico disponível é largamente suficiente para destruir a humanidade e boa parte das mais diversas formas de vida. Trata-se de uma discussão que procurará colocar em interação a história e a sociologia para participar no debate sobre a transição hegemónica e concomitante recomposição do mundo, guiada por uma perspetiva crítica e pública segundo o sentido há muito dado pelos sociólogos públicos. Quer dizer, uma história e uma sociologia comprometidas também com o diálogo entre quem pesquisa e produz ciência social e os mais diversos públicos interessados em compreender o presente e suas principais forças e dinâmicas.
Nota Biográfica
Fernando Bessa é Professor associado com agregação do Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e investigador do CICS.Nova. Foi pesquisador-visitante do CNPq na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo também lecionado em diversas universidades do Estado espanhol e do Brasil. Capitalismo, cidades e pobreza são alguns dos seus interesses de investigação. “Capitalismo e devastazione ambientale: Il contributo di Marx e Engels”, publicado na revista italiana La Critica Sociologica, e a tradução e prefácio da biografia sobre Friedrich Engels de Michael Krätke, em coautoria com Manuel Carlos Silva são alguns dos seus trabalhos mais recentes.
Filipa Santos (ICS UMinho)
Entre a Terra e o Mar: uma etnografia visual da cultura do sargaço na comunidade piscatória de Angeiras, Matosinhos
A apanha do sargaço constitui uma atividade imemorial, complementar à atividade agrícola, que pressupõe a recolha e secagem das macroalgas para fertilização das colheitas. Enquanto elemento de ligação entre o espaço terrestre e marítimo, a recolha de sargaço contribuiu significativamente para a formação e fixação de aglomerados costeiros no litoral Norte português ao longo dos séculos.
Esta comunicação pretende dar conta de um projeto teve como objeto central de estudo as dinâmicas culturais em torno da atividade sargaceira na comunidade piscatória de Angeiras, pertencente à freguesia de Lavra, no município de Matosinhos. Com recurso a uma metodologia etnográfica e visual de análise, a investigação visa refletir acerca do processo de construção identitária da comunidade piscatória de Angeiras e do papel da prática sargaceira na dupla natureza agrícola e marítima das suas gentes.
Detentores de um património cultural material e imaterial notável, torna-se essencial compreender o seu passado técnico, social e económico de modo a tentar descodificar um modo de vida partilhado cujos hábitos, objetos, comportamentos, políticas de género, saberes e tradições contribuem, conjuntamente, para dar conta de processos específicos de apropriação prática e simbólica do “espaço” onde a comunidade interage e se desenvolve.
Para além disso, na tentativa de contrariar o atual cenário de desperdício e inutilização do sargaço que abrange a costa portuguesa, exploram-se soluções alternativas e inovadoras para o seu destino, atendendo ao potencial de aplicação das macroalgas numa série de produtos e indústrias.
Nota Biográfica
Filipa Santos é licenciada em Turismo, Território e Patrimónios pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestre em Património Cultural pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho com a tese 'Entre a Terra e o Mar: uma etnografia visual da cultura do sargaço na comunidade piscatória de Angeiras, Matosinhos'. Co-autora do artigo O Colonialismo filtrado pelo olhar: Visibilidades e invisibilidades na fotografia da Diamang (2021) na Revista de Estudos de Identidade e Intermedialidade. Participação em conferências e seminários no âmbito do Património Cultural e da História Contemporânea.
Glória Solé (CIED-UMinho)
Ensino de história a jovens refugiados: um estudo comparativo entre Grécia e Portugal
Esta comunicação visa apresentar um estudo paralelo/comparativo realizado com estudantes de Educação Básica, futuros professores do ensino primário na Grécia (U. de Ioannina) e em Portugal (UMinho, Braga), realizado no início de 2020. Para isso, aplicou-se um questionário de resposta aberta, a 35 estudantes da Universidade do Minho (20 a 35 anos) e 35 estudantes da Universidade de Ioannina (20 a 25 anos). O estudo teve como objetivo identificar as percepções dos estudantes sobre a disciplina de história e os padrões de sua consciência histórica: a história como disciplina escolar facilitaria a adaptação dos filhos dos refugiados ao novo país? Como “o aumento global de refugiados desafiaria o paradigma da educação” (Catarci et al, 2017) nesses dois países europeus e influenciaria as percepções dos futuros professores sobre a identidade nacional e o ensino em relação à história? Além disso, que noções de cidadania surgiriam nesses dois países europeus que compartilharam um passado comum de ditaduras duradouras, ondas de emigração e imigração, e também da crise económica de 2011 em diante? Como conclusões deste estudo: os estudantes sugeriram temas da história nacional da Grécia e de Portugal, mas com semelhanças com a história comum dos refugiados, enquadrando-se na categoria «empatia»; destacaram semelhanças entre o passado dos países de acolhimento e o presente dos imigrantes/refugiados; sugeriram que as semelhanças históricas poderiam ser transformadas em “ferramentas” de ensino.
Adicionalmente, a referida empatia foi demonstrada por estudantes que na primeira parte do estudo optaram por ‘objetivos’ que implicariam uma abordagem ‘tradicional’ no que diz respeito ao ensino da história.
Nota Biográfica
Glória Solé é Professora Auxiliar do Departamento de Estudos Integrados de Literacia, Didática e Supervisão (DEILDS), do Instituto de Educação da Universidade do Minho. Diretora do Mestrado em Ensino de História no 3.º CEB e no Ensino Secundário. Membro do Centro de Investigação em Educação (CIEd) e dos grupos de investigação HEIRNET, IRAHSSE, Associação Ibero-Americana (Cutitiba) e da APH. Mestre em História Moderna e Contemporânea. Doutorada em Estudos da Criança pela UMinho e coordenadora científica da Revista Estudos Regionais. Conta com mais de 100 artigos, capítulos de livros e livros publicados, entre os quais duas dezenas de artigos Scopus e Web of Science.
Irene Pimentel (IHC-FCSH)
Compreender que não nascemos hoje através da História
Disponível em breve.
Nota Biográfica
Irene Flunser Pimentel é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em História Contemporânea (século XX) e doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC, da Universidade Nova de Lisboa). Elaborou diversos estudos sobre o Estado Novo, o período da II Guerra Mundial, a situação das mulheres e a polícia política durante a ditadura de Salazar e Caetano. É autora e co-autora de diversos artigos em revistas de referência e de mais de uma vintena de livros, tendo recebido diversos prémios.
Isabel Macedo (CECS-ICS UMinho)
MIGRA MEDIA ACTS: diálogos interdisciplinares num projeto de investigação-ação
O projeto de investigação MigraMediaActs tem como objetivo analisar conteúdos mediáticos em língua portuguesa, procurando compreender como se desenvolvem os processos que procuram descolonizar paisagens mediáticas; e o modo como diferentes atores sociais (e.g., ativistas, associações, jornalistas, realizadores, etc.) contribuem para esses processos. Promover a descolonização dos estudos da comunicação, do jornalismo e dos média em geral e potenciar relações construtivas entre os diversos agentes que intervêm nestes processos (investigadores/as, professores/as, jornalistas, artistas e atores da sociedade civil), encarando a diversidade como instrumento de transformação social, exige um esforço de reflexão crítica e interdisciplinar. É sobre este processo de articulação entre uma equipa que reúne historiadores, antropólogos, sociólogos, jornalistas, psicólogos sociais, entre outros investigadores, que iremos refletir, discutindo e reconhecendo movimentos, tensões e ambivalências concetuais e metodológicas. A partir de uma perspetiva situada e interseccional, considerando a complexidade das dinâmicas identitárias nas sociedades contemporâneas, apresentamos nesta comunicação um projeto de investigação-ação com um conjunto de tarefas articuladas que propõe, entre outros aspetos, contribuir para a transformação social, questionando conhecimentos, pensamentos e sentidos sobre nós e sobre o mundo.
Nota Biográfica
Isabel Macedo é Investigadora Auxiliar no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho. É doutorada em Estudos Culturais, licenciada, e mestre em Ciências da Educação. É cocoordenadora do projeto "Migrações, media e ativismos em língua portuguesa: descolonizar paisagens mediáticas e imaginar futuros alternativos" (FCT, 2022-2026) e membro da equipa do Museu Virtual da Lusofonia. Publicou em revistas nacionais e internacionais sobre cinema, interculturalidade, memória, (anti)racismo e educação. Foi coordenadora do Grupo de Trabalho de Comunicação Intercultural da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom; 2018-2022) e é Diretora da Revista Lusófona de Estudos Culturais (com Rita Ribeiro).
Joana Dias Pereira (IHC-FCSH)
A longa história do associativismo livre: um projeto de investigação colaborativa
O projeto de investigação "A Longa história do associativismo livre" desenvolve-se com a cooperação de representantes de estruturas associativas de diversas tipologias. A metodologia adotada parte da premissa que a investigação colaborativa deve assentar na coprodução de conhecimento em todas as fases do processo de investigação.
Esta comunicação descreve a evolução do modelo teórico e metodológico aplicado, destacando a relevância do processo colaborativo e as suas potencialidades, desde a definição dos objetivos de investigação – a reconstrução do passado associativo com base na história oral; à metodologia eleita – a recolha de histórias de vida; ou à identificação dos interlocutores a entrevistar. Procura revelar de que forma a opção pela coprodução do conhecimento permitiu adaptar e enriquecer o programa de investigação inicial, incorporando dimensões fundamentais do ativismo social no campo da memória.
Ou seja, a história do associativismo reconstruída com os seus protagonistas assume-se como um campo de análise crítica e autorrepresentação do papel da participação política na resistência à ditadura e na construção do Portugal democrático, que desafia a narrativa oficial que tende a invisibilizar o conflito e a diluir a resistência e a luta por alternativas utópicas no discurso uniformizador dos vencedores.
Destaca, em suma, a riqueza das práticas da história pública, uma história sobre, para e com as pessoas e valoriza a investigação colaborativa com os agentes históricos, como meio de revolucionar as nossas problemáticas, metodologias e resultados.
Nota Biográfica
Joana Dias Pereira, investigadora contratada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e membro da direção do Instituto de História Contemporânea. Doutorada em História com uma tese intitulada A Produção Social da Solidariedade Operária. Dedica-se à história do associativismo e dos movimentos sociais nos séculos XIX e XX em Portugal e nas ex-colónias portuguesas, tendo publicado vários livros e artigos sobre a temática tais como Associativismo Livre: uma história de Fraternidade e Progresso (1834-1926), Threatening Alliances: Portuguese Ethnography of Indigenous Associative Life in Angola, Mozambique and Guinea (1945-1974) ou Engaging with Colonial Knowledge on African Associational Life: Angola Case Study from 1860 to 1974.
Luís Trindade (CEI-UC)
Canções para a História. A música popular como arquivo do século XX
As canções são um objeto particularmente desafiante para o estudo dos contextos históricos em que circulam. Desde logo, pela facilidade dessa circulação. A partir da segunda metade do século XX, em particular, um conjunto muito amplo de suportes – a rádio e a televisão, mas também os discos, as cassettes e os CDs – transportam a canção para todo o lado, permitindo múltiplas formas de apropriação. Percorrendo essa circulação – entre a produção e a audição, através de espaços públicos e privados, diferentes momentos do quotidiano, o país e o estrangeiro – é possível reconstituir não apenas as relações sociais e geopolíticas que a canção tece, mas também o sentido que os contemporâneos dão ao seu tempo.
Mas as canções são também desafiantes noutro sentido: objetos culturais híbridos, convidam-nos a pensar nos estilos musicais em que se integram, nos recursos instrumentais que a compõem, nas mensagens poéticas que veiculam, e até no tipo de interpretação e dança que despertam. Desta perspetiva, tornam-se documentos sociais e políticos, marcadores do desenvolvimento tecnológico, mercadorias com valor económico, formas de subjetivação (sexual, por exemplo) e recipientes de memória social. Nesta apresentação, procurarei partilhar algumas hipóteses acerca do trabalho historiográfico em torno do papel das canções, em Portugal, entre o pós-guerra e o final do século XX.
Nota Biográfica
Luís Trindade é professor de história contemporânea na Universidade de Coimbra, onde também desempenha funções como vice-coordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares. Entre 2007 e 2019, lecionou na Universidade de Londres (Birkbeck College). Publicou O Estranho Caso do Nacionalismo Português. O salazarismo entre a política e a literatura (2008), Narratives in Motion. Journalism and modernist events in 1920s Portugal (2016) e Silêncio Aflito. A sociedade portuguesa através da música popular (dos anos 40 aos anos 70) (2022). Tem desenvolvido pesquisa nas áreas do nacionalismo, marxismo, cinema e outros aspetos da cultura popular em Portugal no século vinte.
Luís Velasco-Martinez (UVigo)
Patrimonio histórico y memoria de la dictadura en la España actual
O debate sobre a utilização de espaços e património ligados à memória da ditadura franquista tem estado muito presente no debate público espanhol ao longo das últimas duas décadas. Embora o início da Transição tenha gerado um primeiro movimento de revisão dos espaços públicos ligados à ditadura, este não se generalizou. O debate sobre o passado recente da Espanha democrática e a revisão da ditadura nos seus aspectos simbólicos foi evitado. A partir da primeira década do século XXI surgiu um importante movimento que exigiu a revisão deste passado. Como resultado, foram implementadas políticas públicas para a re-significação dos espaços. Um dos marcos mais importantes foi a remoção dos símbolos do regime franquista, juntamente com a revisão de todos os mapas de rua, mas o mais simbólico até à data foi a recuperação do palácio de Verão do ditador na Galiza para o património público: o pazo de Meirás. Em contraste com o que aconteceu nas fases iniciais da transição democrática espanhola, o processo de recuperação do pazo de Meirás foi o produto de um consenso político. Neste contexto, será agora possível chegar a um consenso sobre a memória da Espanha democrática?
Nota Biográfica
Luis Velasco-Martinez tem um doutoramento internacional em História Contemporânea. Professor Assistente de História Contemporânea na Universidade de Vigo, foi professor nas universidades de Málaga e "Pablo de Olavide" em Sevilha. As suas linhas de investigação desenvolvem-se em torno dos arquivos militares, dos processos de construção nacional na Europa e da memória democrática. O seu último livro intitula-se Fascistas de Ultramar. El falangismo español en el Río de la Plata (1936-1943), Buenos Aires: Biblos (2022).
Maria Manuel Oliveira (Lab2PT-EAAD UMinho)
As pessoas somos nós
Disponível em breve.
Nota Biográfica
Maria Manuel Oliveira é arquitecta pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto (1985), investigadora no Lab2PT e, desde 1997, docente na Escola de Arquitectura, Arte e Design da Universidade do Minho, onde desenvolve projectos de arquitectura e desenho urbano no âmbito do seu Centro de Estudos. Actualmente, os seus interesses de estudo centram-se na pesquisa e intervenção sobre espaços e edifícios citadinos abandonados ou em deterioração, cujo contexto é crítico para a construção da memória urbana.
Marília Gago (CITCEM | IE UMinho)
Ser ou não ser: (Des)colonização e identidade(s) Portuguesa(s)
A História Pública materializada no modo como o passado é narrado publicamente articula-se de formas diversas com a identidade e a memória individual e coletiva. A (des)colonização portuguesa é um passado doloroso e controverso. Entre omissões e silêncios, vai-se assistindo a um debate público entre uma narrativa única/mito e narrativas perspetivadas. Este debate tem reflexos na História Disciplinar. Apresenta-se uma síntese analítica deste debate público (historiadores, jornalistas, políticos, ativistas) e as ideias que emergiram de estudos realizados entre professores, futuros professores de História e estudantes de História no fim dos dois ciclos de ensino da escolaridade obrigatória.
Portugal tem assistido ao debate acerca do restauro ou da demolição de marcas dos descobrimentos e do colonialismo, promovidas pela arquitetura salazarista. Após o “silêncio dos inocentes”, que dura desde a reposição da democracia a 25 abril de 1974, hoje a poeira do passado é debatida. Restaurar ou demolir monumentos como o Padrão dos Descobrimentos e os brasões do Jardim da Praça do Império? Silenciar ou debater a Guerra Colonial, a Descolonização e o movimento dos Retornados? De que forma os silêncios têm (en)formado a identidade(s)? Várias são as questões que emergem …
A natureza coletiva da História é em parte memória. A memória pode ser entendida como recordação a posteriori que pode iluminar o passado e proceder à “fixação”, por meio de qualquer linguagem, o que aconteceu, como e porque aconteceu. A memória pode substanciar-se numa tradição efetiva, numa fascinação de alteridade, numa pressão traumática e/ou num esquecimento. Por seu turno, a identidade é construída no enlace de várias dimensões da vida do ser humano, tendo a História e as “estórias” um papel relevante nessa construção. Assim, é premente termos uma visão acerca das ideias que surgem entre os agentes educativos da História disciplinar e compreender como esta (en)forma a História pública.
Nota Biográfica
Marília Quintal é doutorada em Educação, Metodologia do Ensino da História e Ciências Sociais, mestre em Educação, Supervisão Pedagógica e Metodologia do ensino de História e licenciada em História e Ciências Sociais, pela Universidade do Minho. É professora auxiliar convidada na Universidade do Minho, investigadora do CITCEM - Universidade do Porto, do grupo de investigação DICSO da Universidade de Murcia e investigadora estrangeira do LAPEDUH da UFPR-Brasil. Foi investigadora em Pós-Doutoramento, nos projetos de investigação “Consciência histórica: teoria e práticas I e II”, financiados pela FCT. Autora de publicações e comunicações em Educação Histórica, coautora de manuais escolares portugueses e guineenses.
Natacha Antão Moutinho (Lab2PT-EAAD UMinho)
WALK | Caminhar como prática artística
walk.lab2pt é um projecto de investigação dedicado à prática do caminhar como prática de artística, com contribuição para a pedagogia artística, e disseminação de artistas e autores que se expressam e produzem arte caminhando (https://walk.lab2pt.net/). Este projecto é iniciativa de um grupo de investigação criado e coordenado por Natacha Antão Moutinho (EAAD/Lab2PT) e Miguel Bandeira Duarte (EAAD/Lab2PT) investigadores do I&D Lab2PT, com Geert Vermeire coordenador do "the Milena principle" e "walk listen create". Este grupo dilata-se com a participação de diversos artistas e investigadores que connosco têm colaborado desde 2018.
Nota Biográfica
Natacha Antão Moutinho é Professora Auxiliar na Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho e membro investigador do Laboratório de Paisagem, Património e Território (Lab2PT). Doutora em Belas Artes (2016, FBAUL), com especialização em Desenho. A sua investigação artística e científica cruza-se com a sua actividade pedagógica, centrando-se em áreas como o desenho e a cor e na prática da caminhada como metodologia de investigação. Co-organiza o projeto walk.lab2pt, focado no caminhar como prática artística e metodologia de investigação. É editora da revista PSIAX – Estudos e Reflexões sobre Desenho e Imagem.
Nuno Domingos (ICS-UL)
Desporto e narrativa nacional
Relacionado de inúmeras formas com a organização social, o desporto, sobretudo enquanto espetáculo popular e mediatizado, é um meio privilegiado para produzir uma história pública. No âmbito do meu trabalho, o desporto tem permitido a discussão de um conjunto de dinâmicas da história portuguesa, nomeadamente o contexto do seu império colonial durante o século XX. Nesta apresentação, regresso a estas questões, a propósito da produção contemporânea de uma memória oficial do período colonial, que está intrinsecamente ligada à construção de uma narrativa mestra da identidade nacional. Focar-me-ei, fundamentalmente, no caso do futebol. Em primeiro lugar, trato das relações entre futebol colonial e metropolitano durante o Estado Novo, altura em que popularidade global do jogo o tornou num expediente para a formulação de um conjunto de discursos políticos. Em segundo lugar, procurarei demonstrar como um conjunto de interpretações realizadas nesse período se prolongaram após o 25 de Abril de 1974, servindo a acomodação do passado imperial ao nacionalismo português contemporâneo.
Nota Biográfica
Nuno Domingos, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. É autor de Futebol e Colonialismo. Corpo e Cultura Popular em Moçambique (ICS, 2012) e organizou recentemente a obra coletiva Cultura Popular e Império (ICS 2021).
Rita Leite (CEHR-UCP)
Cinquenta anos do 25 de abril: uma história de permanências, ruturas e recomposições
Pretende-se apresentar um projeto em execução no Centro de Estudos de História Religiosa que visa desenvolver um balanço historiográfico dos 50 anos do 25 de abril de 1974. Nesse âmbito, valoriza-se a análise do processo societário e mental, ocorrido entre 1968 e 1976 e marcado por mutações internas e externas, correntemente denominado como sendo o «da primavera marcelista à democratização». Simultaneamente, importará também considerar como as mudanças que se operam durante esse período – a nível demográfico, político e cultural – se entrecruzam com persistências de resistência e potenciadoras de uma pluralidade, não só ideológica, mas produto de cruzamentos geracionais e identitários. Nesta problemática e nesta contextualização ampla, procuraremos situar de forma mais específica as questões em torno da religião, das práticas de fé, das suas convicções e dos diversos elementos e níveis institucionais confessionais, e elaborar narrativas historiográficas que abram novas perspetivas de análise crítica e alarguem os conhecimentos existentes.
Nota Biográfica
Rita Leite é licenciada em História pela FLUL (2004). Na mesma instituição concluiu, em 2007, o Mestrado em História Contemporânea e, em 2017, o Doutoramento em História, na especialidade de História e Cultura das Religiões, com a tese: Texto e Autoridade. Diversificação sociocultural e religiosa com a Sociedade Bíblica em Portugal (1804-1940), recentemente publicada pela INCM. É Investigadora Integrada do UCP-CEHR, colaboradora do CH-ULisboa e membro da Association Française d’Histoire Religieuse Contemporaine. Dedica-se às temáticas da história do protestantismo, das congregações religiosas e da diferenciação religiosa no Portugal contemporâneo. É atualmente Investigadora e Professora Auxiliar Convidada na Faculdade de Teologia (FT-UCP) e Diretora-adjunta do UCP-CEHR.
Teresa Mora (CICS.NOVA-ICS UMinho)
Práticas artísticas e (est)ética do reconhecimento
Na sociedade portuguesa atual, cada vez mais artistas profissionais desenvolvem processos criativos com a participação ativa de artistas não-profissionais. Por um lado, os sectores da educação e intervenção social, com enquadramento do poder municipal, têm recorrido às artes como alternativa a ou em colaboração com as práticas instituídas dos técnicos (de educação, cultura e ação social). Por outro, os artistas contemporâneos, têm desenvolvido nos processos de criação a sua vertente de participação, envolvendo na atividade artística pessoas ou comunidades que estão social e culturalmente (mais ou menos) distanciadas dos circuitos legítimos da arte. Os participantes encetam uma experiência direta de acesso a competências artísticas, o que, no ideal da democracia cultural, os aproxima política e constitucionalmente da efetivação do direito de cada cidadão aceder à arte como (co)criador (para lá de público ou consumidor). O facto de não-artistas incorrerem num processo de participação cultural e artística, ou de participação em práticas artísticas comunitárias, pré figura uma brecha ou circunstância oportuna à vivência de disposições e ações de recolocação identitária que abram para ou expandam o “poder de” ser reconhecido, pessoal e socialmente – da esfera íntima da aquisição do autorrespeito por si à participação cívica em contextos micro políticos (por exemplo, ter voz numa reunião de condomínio). Mas através de que lógicas e procedimentos metódicos os artistas profissionais que desenvolvem processos de criação na sua vertente de participação ou comunitária podem estar a potenciar experiências de recolocação identitária? A importância crescente, embora controversa, que estas práticas artísticas configuradas pelo que designamos por uma (est)ética do reconhecimento assumem na história do presente, em contexto nacional e internacional, motiva a proposta de trazer a este seminário um ou dois casos que se espera possam suscitar discussão sobre o, eventual, valor diferencial da arte participativa e comunitária relativamente à ciência social pública e de intervenção.
Nota Biográfica
Teresa Mora, professora auxiliar na Universidade do Minho, investigadora integrada no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) - Polo da Universidade do Minho. Licenciada em Sociologia pelo ISCTE. Doutorada na mesma área pela UMinho. Tem realizado trabalho nas seguintes áreas: teoria social e estudos utópicos; práticas cidadãs e projetos alternativos; práticas artísticas de inclusão social; práticas colaborativas entre arte, ciência e filosofia. Entre outras publicações, os seguintes capítulos de livros/artigos: Cuidados com o mundo e aproximações entre arte-ciência (2018); Arte e comunidade em Esposende: uma abordagem de proximidade (com Ana Filipa Oliveira) (2018); House on Fire: um caso de arte política e colaborativa (2017).
Virgílio Borges Pereira (IS-UP)
Objectivar o trabalho e a reprodução social na indústria da construção: uma perspectiva reflexiva sobre um percurso de pesquisa
Esta intervenção apresenta o caminho de investigação realizado no quadro de um projecto sobre a indústria da construção portuguesa, desenvolvido com recurso ao modelo conceptual de Pierre Bourdieu, para promover investigação sobre desigualdades socioeconómicas com um enfoque central no domínio do trabalho. Para este efeito, a intervenção divide-se em quatro momentos onde discutiremos brevemente as influências teóricas subjacentes ao desenvolvimento da investigação e do respectivo modelo de análise, a estratégia metodológica levada a cabo, realizada com recurso a “métodos mistos” com empresas e trabalhadores portugueses no país e fora deste, as principais coordenadas dos resultados da investigação recolhidos e uma ilustração dos mesmos tomando como referência o mercado da reabilitação urbana na cidade do Porto e que recorre aos recursos analíticos potenciados pela prática de uma “sociologia reflexiva”, nos termos para esta fixados por Bourdieu e Wacquant no seu Convite à Sociologia Reflexiva. Esta última prática, argumentaremos, pode dialogar produtivamente com o legado científico e cívico subjacente ao desenvolvimento da história e da sociologia públicas.
Nota Biográfica
Virgílio Borges Pereira é sociólogo e, desde 1994/95, Professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Investigador do Instituto de Sociologia da mesma Universidade. Desde 2003/04, colabora com a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Inspirando-se no legado de Bourdieu, especializou-se na sociologia das classes sociais e das práticas simbólicas, analisando a cidade do Porto, os Vales do Ave e do Sousa. Tem estudado, socio-historicamente, a acção de grupos dominantes, de intelectuais, de instituições e as relações com grupos desfavorecidos. Estuda ainda a questão da habitação e a indústria da construção.
José Pedro Monteiro (CECS-UM)
“O mundo está louco e nós é que sofremos as consequências”: os desafios de escrever uma história internacional do colonialismo português
As últimas décadas testemunharam iniciativas intelectuais várias que procuraram interpretar e compreender as trajectórias diversas do moderno imperialismo europeu para lá das estritas fronteiras de cada estado-império. Os estudos sobre formas de cooperação e troca inter-imperial, sobre o papel de escrutínio e transformação normativa protagonizados pelas organizações internacionais, ou a formação de redes e solidariedades com propósitos de reforma imperial ou simplesmente anti-coloniais multiplicaram-se nos últimos anos, procurando compreender como o internacional e o colonial se intersectaram e constituíram mutuamente. O colonialismo português, não obstante proclamações oficiais sobre uma suposta soberania inexpugnável, nunca deixou de estar profundamente susceptível, e reactivo, a estas dinâmicas. Fê-lo não só respondendo a iniciativas e denúncias internacionais mas também incorporando activamente ideias, recursos e programas oriundos de além-fronteiras. Nesta apresentação procurar-se-á explorar a forma como o estado-império português, na sua fase tardo-colonial, se ressentiu destes processos, com eles se envolvendo, gerando resultados imprevistos e, amiúde indesejados. Em particular, como se tentará demonstrar, as reformas tardias de 1961 e 1962 (revogação do indigenato e abolição do Código do Trabalho dos Indígenas) estiveram intrinsecamente relacionadas, tanto no que toca à causalidade como ao seu conteúdo, a dinâmicas e acontecimentos históricos protagonizados por actores, instituições e redes internacionais e transnacionais. A partir deste exemplo, reflectir-se-á sobre os benefícios, e limites, do cruzamento metodológico das histórias internacionais e coloniais, tanto para efeitos de inovação historiográfica como de questionamento dos termos dos debates públicos sobre os passados coloniais, português mas não apenas.
Nota Biográfica
José Pedro Monteiro é investigador auxiliar no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho. É doutorado em história pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Tem produzido diversas publicações na área da história colonial e internacional. Mais recentemente, publicou o livro “The Internationalisation of the “Native Labour” Question in Portuguese Late Colonialism (1945-1962) (Palgrave Macmillan, 2022). Coordena ainda actualmente o projecto “Humanity Internationalized: Cases, Dynamics, Comparisons (1945-1980)”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
GALERIA
Em atualização
ARTIGOS PUBLICADOS
Em atualização
ORGANIZAÇÃO
Entidades Organizadoras
Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT)
Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA)
Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território (IN2PAST)
Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS)
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA.UMinho)
Comissão Organizadora
Alexandra Esteves | Lab2PT-ICS UMinho
Andreia Nunes | ICS UMinho
Bruno Madeira | CITCEM | ICS UMinho
Fátima Moura Ferreira | Lab2PT-ICS UMinho
Filipa Santos | ICS UMinho
Libânia Pinto I ICS UMinho
Lucas Azad | ICS UMinho
Paula Grenha | ICS UMinho
Rita Oliveira | Lab2PT-ICS UMinho
Carla Xavier | Lab2PT-UMinho
António Pereira | ICS UMinho
Comissão científica
Alexandra Esteves | LAB2PT-ICS UMinho
Bruno Madeira | CITCEM | ICS UMinho
Cidália Silva | Lab2PT-EAAD UMinho
Fátima Moura Ferreira | LAB2PT-ICS UMinho
Luís Cunha | ICS UMinho